Dica 4 da lista "O Melhor do Mundo 2012" - National Geographic.
ÍSTRIA, CROÁCIA
Fonte do texto: http://oglobo.globo.com/boa-viagem/toscana-croata-conheca-istria-onde-croacia-mais-se-parece-com-italia-2924397#ixzz1ltMi0DCH
Puxe pela memória, e você se lembrará de que já ouviu falar da Ístria. Pouco provavelmente como destino turístico, mas como tema de aulas de História. A península, com 45km de costa no Mar Adriático, já pertenceu aos impérios Romano, Bizantino e Austro-Húngaro; fez parte do território italiano, pós-Primeira Guerra Mundial - tanto que seus habitantes são bilíngues e suas cidades têm nomes nos dois idiomas - e, eis o capítulo mais famoso estudado nas escolas, após a Segunda Guerra foi incorporada à antiga Iugoslávia, para, com o desmembramento do país, enfim virar Croácia. Mas esqueça o dever de casa, e vá estudar in loco paisagens, arquitetura e prazeres (como vinhos, azeites e trufas) da Toscana croata.Semelhanças não são coincidências
Cidades históricas muradas, estradas emolduradas por campos em que se plantam uvas e oliveiras, trattorias onde se bebe o vinho local e se comem massas tradicionais, à base de trufas (brancas e negras) encontradas na região e regadas com azeite artesanal de primeira, belas praias banhadas por águas cristalinas, propriedades rurais transformadas em charmosos pontos de agroturismo... Qualquer semelhança com a Toscana italiana não é mera coincidência: vizinha de frente da Itália, a península da Ístria até já fez parte de seu território. Não por acaso, sua população é bilíngue. Mas o sotaque croata está em cada detalhe.
Um bom ponto de partida para conhecer a península banhada pelo Mar Adriático é Rovinj/Rovigno, considerada a mais romântica cidade do Mediterrâneo - quando (ou se) você conseguir dar as costas para as paradisíacas praias como as do Hotel-ilha Istra, que ocupa toda a ilha de St. Andreas, a dez minutos de barco do porto. Com 2.289 hectares de área verde protegida, Rovinj tem 16 ilhas e ilhotas. Habitada desde a pré-História, foi conquistada pelos romanos em 177 a.C. e dominada pelos venezianos em 1283. Heranças desses períodos estão nos prédios históricos, no Arco de Barbi (erguido em 1638, em substituição ao principal portão de acesso à cidade murada) e nas ruelas que levam morro acima à Igreja de Santa Eufêmia, maior e mais importante monumento da cidade. O prédio, barroco em estilo veneziano, é dedicado à santa e mártir cujo sarcófago teria chegado à cidade pelo mar, no ano 800.
Outro programa interessante é conhecer a pequena Casa Batana, primeiro ecomuseu da Croácia, dedicado ao tradicional barco usado pelos pescadores locais. Fica numa casinha simples, do século XVII, antes ocupada por marinheiros, artesãos e trabalhadores.
E uma vez com o pé na estrada, um dos passeios imperdíveis é seguir em direção a Motovun/Montona, cidade medieval que fica 277 metros acima do nível do mar, é cercada por muros do século XIII, com seus portões góticos, e domina a paisagem do vale do Rio Mirna. Além de belezas como a torre da igreja de 1585, pode-se provar as trufas que fazem a fama da região, em restaurantes charmosos como o Mondo. Ou levá-las para casa (inteiras, lascas perfumando azeites ou como base de molhos) para serem usadas nas mais variadas receitas, compradas em lojas como a Zigante, que vende seus produtos para todo o país.
Nos arredores de Motovun está Livade, onde fica a pequena fábrica do azeite Ipsa (lê-se Ipchá), o primeiro produzido no país a ser incluído no guia italiano dos melhores do mundo (o "L'Extravergine"), em 2005 (e em 2006, 2007 e 2008). Numa simpática casa, Klaudio Ipsa - cuja família está à frente de uma cooperativa que produz de cinco mil a seis mil litros por ano - serve um dos quatro tipos do óleo em copinhos de café, para degustação, enquanto explica, em croata, as diferenças entre as azeitonas istarska bjelica, frantoio, leccino, bugla e crnica. Sem tradutor não dá para entender nem isso nem que as duas mil oliveiras usadas na produção estão num terreno entre 190 e 250 metros acima do nível do mar.
Ali por perto encontra-se Kaldir, um vilarejo de cerca de 80 habitantes que é a mais conhecida área vinícola da Ístria, concentrando 70% da produção de uvas para vinhos, em uma área de dez mil hectares no total. Dali saem, entre os tintos, merlots, cabernet sauvignons e barberas. Mas o mais vendido é o teran, com 11% de álcool. Entre os brancos, o mais popular é o malvasia, seguido do pinot branco e do muscat otonel. E também há o rosé croata, chamado de hrvatica.
Bons exemplares dessa produção local podem ser experimentados na Vinícola Benvenuti, herdada por dois irmãos que assumiram o negócio doméstico da família há sete anos e hoje produzem 50 mil garrafas por ano, de três tipos (60% malvasia, além de teran e muscat). Um dos irmãos, o economista Albert Benvenuti, recebe os grupos numa salinha para falar numa mistura de italiano e inglês) sobre os vinhos, armazenados em barris e tonéis que ficam num aposento anexo.
Circular pela Ístria é garantia de muitos outros bons programas. Em Visnjn (lê-se Vishinián)/Visignano, por exemplo, há um antigo observatório. Já entre Rovinj e Porec/Parenzo está o Limski Kanal/Lim Fiorde, um estreito canal de águas cor de esmeralda que invade a península e lembra um fiorde escandinavo.Entre gladiadores e manjubinhas
Maiores e mais importantes cidades da Ístria desde os tempos dos romanos, Pula/Pola e Porec/Parenza, assim como Rovinj, permanecem em posição de destaque na região. Mas, se no passado elas eram estratégicas para conquistadores, hoje são os turistas que as consideram assim. Desde a pré-História, Porec já tinha um porto, construído para pesca. Rovinj também tinha o seu. Agora, as três cidades têm pequenos aeroportos. E só Pula não tem estação de trem. Todas são paradas obrigatórias.
Cidade antiga na costa leste do Mar Adriático, Pula já era citada pelos gregos no século III a.C. É à beira-mar que está a sexta maior arena romana preservada do mundo. O anfiteatro, construído em pedra, entre 29 e 27 a.C., tem 132 metros de largura, 105 metros de comprimento e 32 metros de altura. As lutas de gladiadores, que atraíam até 23 mil espectadores há dois mil anos, foram substituídas por grandes espetáculos musicais. Uma vez na cidade, também vale visitar o Templo de Augustus (na atual Praça da República), a Basílica Maria Formosa e a catedral.
Em Porec - um assentamento desde o período neolítico (4000/1800 a.C.) e, mais tarde, peça-chave na colonização romana da Ístria - não dá para perder a Basílica de Euphrasius, do século IX, exemplo raro da arquitetura dos primórdios do cristianismo (e do período bizantino), com seus maravilhosos mosaicos. Patrimônio cultural da Unesco, ela é a única do gênero que sobrou após a Segunda Guerra Mundial.
Da mesma época são a Decumanus (rua principal) e a Cardo (perpendicular a ela), caminhos rumo ao passado, mas com lugar para lojinhas e para o curioso fast food Gust&Boje (um balcão instalado na janela de um prédio histórico), em que se pode provar o girice, a manjubinha local, pequeno peixe frito na hora que se come em porções servidas com molho tipo tártaro.Todos os caminhos levam à Ístria
Viajar para a Ístria é fácil e gostoso. Seja de carro ou de trem, vindo da Itália ou de Zagreb, a capital croata, as estradas são boas , a viagem é rápida e há ótimas opções para almoçar ou jantar em ambos os caminhos. Quem vem do país vizinho, por exemplo, pode ir de trem até Trieste (ou Trst, em croata) e, de lá, alugar um carro para seguir viagem. Em menos de duas horas atravessa-se um pequeno trecho da Eslovênia e chega-se à península. E sem dificuldades com o estranho idioma de poucas vogais e muitas consoantes: todas as placas identificam os caminhos e cidades também em italiano.
O melhor lugar para se fixar e conhecer o restante da região é Rovinj/Rovino. Mas vale fazer um pit stop em Umag/Umago (a 32km ao norte de Porec e a cerca de 58km de Trieste). Não exatamente por suas belezas, pois esta típica cidade medieval não é das mais bem preservadas. A pedida é parar na trattoria (ou konoba, na língua local) Nono, onde tudo é feito com alimentos produzidos pela família proprietária do local.
Num ambiente tipicamente italiano (ops, croata), pode-se experimentar pratos tradicionais, como o presunto e as salsichinhas artesanais da Ístria, assim como receitas à base de gado boscarino, típico da região. Inicie os trabalhos com a grappa local, que vem com mel (medica). E prove a fritada com trufas e/ou uma massa feita em casa com aspargos selvagens e trufas. De sobremesa, a torta Nona. Com sorte, alguma família croata (tão animada e barulhenta quanto as italianas) estará em festa, ao som de acordeons.
Já para quem vem de Zagreb, a melhor parada é Rijeka, cidade de 140 mil habitantes na região conhecida como Primorsko-goranska. Em frente ao pequeno porto de Volosko fica o restaurante Plavi Podrum, recentemente premiado com o Five Star Diamond Award, da American Academy of Hospitality Sciences (a Academia Americana de Ciências da Hospitalidade, sediada em Nova York), que existe desde 1949 para premiar excelência no campo das viagens, da gastronomia e dos produtos e serviços de luxo.
No restaurante - que botou a Croácia no mapa da boa comida quando foi incluído em uma lista de cem melhores restaurantes do mundo, em 2008 - come-se e bebe-se bem por preços accessíveis. Sua proprietária, a sommelier Daniela Kramaric Tariba, tem uma carta de vinhos com 250 opções para harmonizar com pratos como a indescritível salada de polvo com aspargos selvagens e morangos, que na realidade é um sorbet de morango com vodca.Caixinha de música croata
Linda e delicada como uma caixinha de música, não por acaso Varazdin - a cerca de 1h45m de Zagreb, de ônibus ou de trem - é conhecida como "a pequena Viena croata": centro musical (sede do já tradicional evento Tardes Barrocas, que acontece todo outono, desde 1971, atraindo centenas de turistas), cidade do barroco e das flores, seu bem preservado centro histórico guarda a riqueza acumulada em oito séculos.
São praças, igrejas, luxuosos palácios urbanos e até um cemitério que remetem ao período de dominação do Império Austro-Húngaro, como um museu a céu aberto. E cheio de vida, com suas charmosas lojinhas, bares com mesas nas varandas e feira de produtos típicos. Neste centro histórico que parece cenográfico de tão certinho, uma das visitas imperdíveis é ir ao castelo onde hoje funciona o museu local.Na capital, cafés e novos designers
Zagreb, a capital da Croácia e um dos pontos de partida para a Ístria, tem belezas óbvias, como o telhado reformado da Igreja de São Marcos (que mais parece bordado com os brasões de armas do país) e praças riscadas por trilhos de bonde. Mas seus edifícios centenários escondem, em galerias e jardins de inverno, tesouros que passam despercebidos dos turistas.
Um deles é a Prostor Store & Gallery (Mesnicka 5), loja de novos designers que lembra os primórdios da extinta Babilônia Feira Hype. Ao lado, fica o Titus Rock Club (Mesnicka 47), onde se pode ouvir música da melhor qualidade, ao vivo, em ambiente esfumaçado (é um dos únicos do país onde se pode fumar). E mais adiante o Cyber Funk Café (Masarykova 26), que vende sucos deliciosos, como o de pêra.
No café do Palace Hotel, espécie de Colombo local, a pedida é provar doces croatas como a tradicional torta Sacher (cuja receita, vienense, remonta ao século XVIII). Já no restaurante do Hotel Regente Esplanade - construído em 1925 para acomodar os passageiros do trem Orient-Express - a pedida é provar o famoso Strukli (pastel cozido ou assado, recheado com queijo da região de Zagorje).
Outro programa imperdível na cidade de 700 mil habitantes é tomar um café no Lemon, no pátio do Museu Arqueológico (Trg N. S. Zrinskog 19), entre réplicas das 460 mil peças guardadas no Palácio Vranyczany-Hafner. Vale entrar para conferir o livro de folhas de linho de Zagreb, o mais velho manuscrito preservado na língua etrusca.
Que tal?
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